quarta-feira, 30 de junho de 2010

As Origens Da Ficção Científica (1)

As fundações da FC assentam há milhares de anos, em trabalhos maravilhosos da mitologia, como por exemplo, a Epopeia de Gilgamesh e O Livro Egípcio dos Mortos. Não estou a dizer que estes textos antigos sejam interpretados como FC, mas oferecem-nos um ponto de partida para uma forma mais geral de literatura fantástica que aponta a via para a emergência do género, milhares de anos após.
 Como bem se recordam, Gilgamesh foi o rei sumério que governou após o dilúvio. Segundo o mito, era 2/3 deus e 1/3 humano, e foi autor de grandes feitos heróicos sobre-humanos, tendo até ultrapassado algumas armadilhas colocadas por eventos fantásticos e divinos. O mito de Gilgamesh relaciona-se com a busca desesperada por algo (a vida eterna) que lhe foi negado em seu nascimento, devido à sua condição de mortal. É esta tentativa de superação que é também fulcral na FC. É aqui importante lembrar, que desde sempre o ser humano teve e desenvolveu a capacidade de comunicar, através de contos alegóricos que foram utilizados como aprendizagem e como base para novas ideias. No entanto, foi só a partir dos dois ou três últimos séculos que os pontos de vista científicos se formaram e impregnaram quer a literatura quer a sociedade. Até aqui, os escritos fantásticos tinham natureza religiosa, e como tal, eram destinados a perpetuar pios mitos como lições e filosofia. Mas que fique claro, é prejudicial para a credibilidade do género classificar retrospectivamente este tipo de material como FC.

Gilgamesh the King, por Jim Burns, 1984


 


terça-feira, 29 de junho de 2010

Solar Equation

Solar Equation é a nova instalação de Arte Pública realizada pelo mexicano Rafael Lozano-Hemmer, que criou para a Praça da Federação de Melbourne Austrália durante o Festival Luz No Inverno.

A peça pode-se ver até 4 de Julho de 2010.  Esta instalação simula o Sol 100 milhões de vezes mais pequeno do que o real, e constitui o maior balão construido no mundo.

 O dito paira, agarrado ao solo é claro, sobre a Praça e é animado por 5 projectores, que projetam a turbulência da superfície solar, as manchas solares e as ejecções de massa coronal, vulgarmente conhecidos por flares. As imagens são geradas através de algoritmos matemáticos que produzem uma constante variação em padrões que não se repetem, como acontece na superfície solar.


O que é a Ficção Científica? (3)

O mesmo se pode dizer da ficção denominada, em terminologia anglo-saxónica, Alternate World, que em tradução significa, Mundo Alternativo, embora seja próprio neste tipo de ficção falar-se de Passado Alternativo. É o caso de Gloriana, or The Unfulfill'd Queen (1978) de Michael Moorcock baseada na novela The Faerie Queene (1580) de Edmund Spencer e dedicada á memória de Mervyn Peake. Aqui se examina a possibilidade do Império Britânico Isabelino ter sido completamente diferente daquele que os registos históricos apresentam, e cuja ambiência é normalmente fantástica. Moorcock re-imagina o reino da Rainha Isabel I na pele de Rainha Gloriana I de Albion, soberana de um Império que se estende do Industão até ao grande continente da Virginia e do Kansas.
Ilustração de Kinuko Y. Craft
 É apresentada uma mistura de ritos e religiões que incluem o culto a Mitra, Thor e Zeus. A capital de Albion é Troynovante (Nova Tróia) que é uma alusão ás mitologias acerca da alegada descesdência da Inglaterra a partir dos primeiros colonos provenientes do reino clássico de Tróia.
 Por outro lado, Pavane (1968) de Keith Roberts tenta extrapolar realisticamente como é que a sociedade inglesa  evoluiria até aos nossos dias se a armada espanhola tivesse derrotado a marinha de Drake, ficando assim as Ilhas Britânicas sob o domínio Papal. Pavane é Ficção Científica não tanto pelo seu conteúdo mas mais pela sua narrativa.
Assim, a FC é um género tão largo, que a sua definição tem tanto a ver como a maneira como o livro é escrito como pelo seu contéudo.



Obviamente, muitas histórias e novelas falham o alcance da FC pois são escritas como mero entretenimento. É o caso das Space Operas. Assim, com estas guias mestras em mente, passemos a considerar as origens do género e tentar localizar o primeiro verdadeiro exemplo de uma novela de Ficção Científica.  Mas isso, fica para os próximos posts.


Ao lado, a edição portuguesa de Pavane da Clássica Editora, Colecção Limites.

domingo, 27 de junho de 2010

O que é Ficção Científica? (2)

Apesar da distinção entre a FC e a Fantasia mais ou menos rígida apresentada no post anterior, não quer dizer que os dois géneros não possam interagir um com o outro. A Fantasia Científica ou a Space Opera utilizam signos derivados da FC para descrever novos e excitantes ambientes, mas ainda assim estes duas sub-categorias são mais típicas da Pulp-Fiction dos anos 20 e 30. Isto porque não se preocupavam em tornar plausíveis os futuros inventados, concentrando-se nos componentes narrativos da aventura forçando muitas vezes os limites físicos do Universo para criar plausibilidade a partir de efeitos especiais não explicados.



Nos meados dos anos 50 surgiu uma escola de pensamento que pretendia que as disciplinas "macias" como por exemplo a Psicologia e a Sociologia deveriam ser consideradas também  como Ciências. Esta pretensão teve interessantes implicações na FC.
A novela The Demolished Man (1953) de Alfred Bester, é um bom exemplo. O livro descreve uma sociedade em que a maioria das pessoas possuem poderes telepáticos, o que dificilmente será considerado uma noção científica. Todavia, na exploração do tema, Bester claramente avalia e racionalmente expõe, os argumentos quer a favor quer  contra a telepatia, e tenta extrapolar de uma maneira lúcida e realista, os efeitos na sociedade que a introdução dos poderes psiquicos pode trazer. Bester descreve uma América que evoluiu de uma maneira completamente diferente ao que seria de esperar em condições normais. Evoluiu para uma Utopia na qual o crime praticamente deixou de existir, pois poderia ser detectado mesmo antes de ocorrer (Philip K. Dick, volta a pegar neste tema na short-story adaptada ao cinema, chamada Minority Report).  O autor examina o outro lado da moeda e mostra como este tipo de ambiente social pode ser opressivo e perigoso.

Ilustração Gene Mollica

O que torna o Homem Demolido ou Desintegrado (The Demolished Man), uma novela genuína de FC, é o facto de imaginar uma transformação implausível na sociedade, e extrapolar coerentemente as repercusões que tal transformação traria ao posterior desenvolvimento da civilização. Este livro, é o triunfo das especulação sociológica, e o seu método exemplifica aquilo que é a verdadeira Ficção Científica.

sábado, 26 de junho de 2010

O que é Ficção Científica? (1)

A maioria das pessoas sente que podem reconhecer a Ficção Científica (FC), quando na sua vida diária se deparam em  filmes e episódios de televisão, com naves espaciais, pistolas de raios laser ou aliens e vampiros mais ou menos foleiros.
A FC para ser reconhecida como um género distinto, deve ter determinadas fronteiras, regras ou parâmetros ideais que definam o que é FC e excluam tudo o que não é.
Vamos dar aqui dois exemplos práticos retirados da literatura e ver até onde nos podem levar.
Primeiro, a novela clássica Titus Groan (1946) de Mervyn Peake.
Neste obra o autor descreve a vida de um grupo de pessoas que vive confinada entre as paredes de um enorme castelo, chamado Gormenghast.
( à esquerda ilustração de Ian Miller) 

O castelo é efectivamente uma cidade, tão grande e tão labiríntica que a maior parte continua inexplorada pelos seus habitantes, que governam a sua vida de acordo com detalhes obcessivos de antigas escrituras e regulamentos, que dão ao lugar um sentido profundo do bizarro e do lúgubre. Peake descreve detalhadamente os efeitos psicológicos nos seus habitantes provocados por este sombrio lugar onde vivem. Não explica, nem lhe interessa, as origens deste castelo, quem o construiu, etc. Simplesmente existe e está ali plantado.

Agora comparemos com Dune (1965), a novela mais conhecida de Frank Herbert. Este autor descreve o mundo desconhecido de Arrakis  à maneira de Mervyn Peake, e como vivem os seus habitantes áridos que a ecologia deste planeta desértico impõe.

Ilustração de Jim Burns
No entanto, o que separa o Dune de Titus Groan é a maneira como cada escritor estabelece o seu mundo imaginado. Herbert inventou grandes espaços num planeta distante num contexto humano de um império intergaláctico, que se desenvolveu durante eras, descobrindo no processo outros planetas habitáveis, onde semearam colónias. Ele descreve, em termos verdadeiramente ecológicos, a geografia física do planeta, mesmo ao pormenor da consistência do seu solo, e das várias formas de vida que evoluiram nesse ambiente. Herbert não facilita a vida aos seus personagens humanos e obriga-os mesmo, para dar credibilidade à sua obra, a utilizar uma espécie de fatos de borracha que fazem a reciclagem de água dos seus fluidos corporais, de maneira a poderem viver de acordo com as condições ambientais inventadas e descritas por ele.

Peter Berg remake

Arrakis é um imenso deserto que não possui água própria. Até certo ponto Frank Herbert até explica os sonhos de alguns personagens em tornarem o planeta mais hospitaleiro para a espécie humana, e todo o processo de TERRAFORMAÇÃO que implica. Mas o que é mais importante em Dune, é o seu intrínseco realismo uma vez que a vida dos personagens é formatada pela paisagem cientificamente definida do seu ambiente.
A comparação destes dois trabalhos clássicos da ficção imaginativa, um Fantasia, outro FC, não sendo de maneira alguma a última palavra no assunto, é na melhor das hipóteses, uma boa generalização que pode ser representativa da relação entre a Fantasia e a FC. Esta, consiste num tipo de literatura preocupada com o processo pelo qual, um determinado ambiente se torna diferente do nosso, ou pelos meios pelos quais a humanidade ali se pode encontrar. Claro que não exclui os elementos narrativos da intriga, aventura e demais, longe disso, mas implica que a FC examine o grande plano, como por exemplo, o questionar como os marcianos se podiam ter desenvolvido em Marte e explorar os efeitos da sua existência na maneira como os seres humanos se vêm a si e ao Universo. A FC enfatiza a sua diferença relativamente à Fantasia pela tentativa de construir uma estrutura racional para tudo o que descreve.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Biografia: A Arte De Jim Burns.(1)

Jim Burns é um galês que nasceu em Cardiff em Abril de 1948. 

Em 1966 juntou-se à RAF, mas cedo rescindiu o contrato e matriculou-se na Newport School Of Art. Em seguida tirou um curso de 3 anos na S. Martin´s School of Art em Londres.

 Em 1972 fundou a Arena, uma agência gráfica. É um dos maiores vultos da ilustração de Ficção Científica, tendo feito uma incursão na sétima arte colaborando com Ridley Scott no inesquecível filme de culto chamado Blade Runner. Como o escritor de FC Harry Harrison um dia disse acerca do trabalho de Burns:

 "You'll find the same love of texture in the softness of a woman's skin as you will in the brittle coldness of machined metal. SF art at its best."



Burns ganhou o prémio Hugo para melhor artista gráfico 3 vezes sendo até a esta altura o único não americano a conseguir tal feito. Foi também premiado por doze vezes nos BSFA Awards.
São dele também numerosas ilustrações para capas de livros de fantasia e de Ficção Científica. Entre estes contam o livro intitulado The Chosen do português Ricardo Pinto.





Este é o endereço do seu site oficial

Do Delta de Vénus Aos Canais De Marte...E Mais Além.


Este é meu novo blog. Trata do Futuro. Nas suas mais diversas dimensões. Só para chatear os Maias, Nostradamus e demais desgraçadinhos profetas da fatalidade apocalíptica de 2012. 
Apesar de vivermos, no paradoxo da simultaneidade da utopia hyppie e da distopia punk, recusamos a ideia do Make Love Not War bem como da egrégia paranóia do No Future. Ambas as visões são, a meu ver, reaccionárias e conformistas. Num tempo em que o paganismo de base naturalista-ecologista renasce poderoso, a ideia de futuro e de progresso cientifico-tecnológico, só é tido em conta se servir a ideologia da famosa "sustentabilidade", que muitas vezes traz escondida na narrativa ambientalista mais radical,  ideologias ameaçadores à liberdade individual e colectiva, bem como da sobrevivência da sociedade democrática.  A palavra de ordem da época é o Back To Nature, e talvez por isso a ideia linear de Futuro e do progresso seja estrategicamente esquecida, senão mesmo atacada na info-memosfera. Como resultado, a Ficção Científica, mais o género fílmico do que o género literário, é já uma vaga recordação.
Em certa medida vivemos  num presente-futuro-distópico bem marcado pela inversão de valores, digno de uma qualquer novela de FC dos anos 70, como seja por exemplo, a propaganda politico-comunicacional totalitária de crises climáticas simuladas, chamadas Aquecimento Global para nos entendermos, que são exclusivamente geradas em computador sem qualquer representação  na realidade, mais o alarmismo e a ameaça chantagista, difundida em massa até à agonia final , da extinção (que por consequência  é também virtual) da humanidade. 
Aqui vai valer quase tudo. Desde a literatura de Ficção Científica, Clips, Filmes, Arquitectura, Design Gráfico, Novidades científico-tecnológicas, etc.
Imagens de Jim Burns
Welcome to the Future.