Faço aqui uma especial menção a Edgar Allan Poe ((Boston, 19 de janeiro de 1809 – Baltimore, 7 de outubro de 1849), tido por alguns critícos como o autor que inaugurou o género de Ficção Científica. É o caso de Thomas Dish que em The Dreams Our Stuff Is Made Of expõe as razões pelas quais considera Allan Poe o progenitor do género. Para mim, Poe está mais directa e profundamente relacionado com as histórias de Horror, tendo inclusivamente influenciado a posteriori autores como H.P.Lovecraft, Stephen King e Clive Barker. De qualquer maneira, E.A.Poe utilizou personagens e ideias nas suas histórias que mais tarde vieram a estar relacionados (em cima à esquerda, The Dreaming #56:Poe, por Mike Huddleston)
com a Ficção Científica, como sejam por exemplo, o encontro com raças alienígenas extraterrestres, vôos de balão até à lua...
com a Ficção Científica, como sejam por exemplo, o encontro com raças alienígenas extraterrestres, vôos de balão até à lua...
Para Dish, Edgar Allan Poe é a fonte, pela simples razão de que as pessoas leram o seus livros, ao contrário do que aconteceu com Frankenstein de Mary Shelley.
Poe foi mais aplaudido na Europa do que nos EUA. Baudelaire (seu tradutor para francês) idolatrou-o como o mais perfeito mestre da auto-destruição, e gerações de escritores franceses tiveram-no como exemplo. Entre os seus acólitos germânicos contaram-se, Nietzsche, Rilke, e Kafka. Os europeus continuam a procurar um determinado tipo de literatura devassa americana celebrando-a com atributos de culto. William Burroughs e Bukowski, não têm qualquer tipo de reconhecimento na América, mas inspiram reverência no Continente Europeu.
No caso de Poe, um novato citadino que se transformou num desperado; um gentleman burguês, bem vestido e bem falante que acabou na indigência; tal figura trágica excitou a intelectualidade europeia, como se esta se podesse imaginar a viver do outro lado do Atlântico, experimentando confortavelmente nas poltronas dos clubes literários europeus, os "horrores" da sociedade do Far West. Apesar de ser bastante lido, Poe estavam muito longe de ser mitificado pelos seus compatriotas. T.S. Eliot, certamente alarmado pelos bárbaros estarem à porta, coloca-o da seguinte maneira:
Memory and desire, stirring Dull roots with spring rain. Winter kept us warm, covering Earth in forgetful snow, feeding A little life with dried tubers. "
"Once upon a midnight dreary, while I pondered weak and weary,
Over many a quaint and curious volume of forgotten lore,
While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,
As of some one gently rapping, rapping at my chamber door.
`'Tis some visitor,' I muttered, `tapping at my chamber door -
Only this, and nothing more."
Poe foi mais aplaudido na Europa do que nos EUA. Baudelaire (seu tradutor para francês) idolatrou-o como o mais perfeito mestre da auto-destruição, e gerações de escritores franceses tiveram-no como exemplo. Entre os seus acólitos germânicos contaram-se, Nietzsche, Rilke, e Kafka. Os europeus continuam a procurar um determinado tipo de literatura devassa americana celebrando-a com atributos de culto. William Burroughs e Bukowski, não têm qualquer tipo de reconhecimento na América, mas inspiram reverência no Continente Europeu.
No caso de Poe, um novato citadino que se transformou num desperado; um gentleman burguês, bem vestido e bem falante que acabou na indigência; tal figura trágica excitou a intelectualidade europeia, como se esta se podesse imaginar a viver do outro lado do Atlântico, experimentando confortavelmente nas poltronas dos clubes literários europeus, os "horrores" da sociedade do Far West. Apesar de ser bastante lido, Poe estavam muito longe de ser mitificado pelos seus compatriotas. T.S. Eliot, certamente alarmado pelos bárbaros estarem à porta, coloca-o da seguinte maneira:
Modern Poes por Scott E. Anderson
" That Poe had a powerful intellect is undeniable: but it seems to me the intellect of a highly gifted young person before puberty. The forms which his lively curiosity takes are those in which a pre-adolescent mentality delights: wonders of nature and of mechanics and of the supernatural, cryptograms and cyphers, puzzles and labyrinths, mechanichal chess players and wild flights of speculation. The variety and ardour of his curiosity delight and dazzle; yet in the end the eccentricity and lack of coherence of his interests tire."
Nesta polémica literária, Eliot ressentido contra Poe, reside o confronto entre a Ficção Científica contra a literatura séria, entre dois géneros de arte; o popular por um lado e... qual é o seu oposto? Impopular?
Para o que interessa, volvidos um século e meio, considerar elitista a literatura de Eliot ou popular a de Allan Poe não tem o mínimo interesse. O modernismo de Eliot é incontornável, mas também o de Poe.
A diferença entre Eliot e Poe, entre a literatura mainstream e FC, não pode ser detalhada pelos critérios do criticismo convencional. Ninguém pode afirmar que Eliot é formalista e Poe não. Qual poema mais formalista? O Waste Land de Eliot ou o Raven de Edgar Allan Poe?
"APRIL is the cruellest month, breeding
Lilacs out of the dead land, mixingMemory and desire, stirring Dull roots with spring rain. Winter kept us warm, covering Earth in forgetful snow, feeding A little life with dried tubers. "
Excerto de Waste Land
"Once upon a midnight dreary, while I pondered weak and weary,
Over many a quaint and curious volume of forgotten lore,
While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,
As of some one gently rapping, rapping at my chamber door.
`'Tis some visitor,' I muttered, `tapping at my chamber door -
Only this, and nothing more."
Excerto de The Raven
A diferença essencial não está na estética ou na subtil natureza metafísica dos dois escritores. A grande diferença está nas questões económicas. Edgar A. Poe escrevia para um grande público. Estava virado para o mercado. Foi o primeiro escritor a atingir um mercado de massas. E este foi o seu grande infortúnio, pois naquela época o mercado estava na sua infância (1830,1840). O seu grande sonho era criar uma revista de nível nacional. Falências, problemas financeiros, alcoolismo e depressão estiveram na origem da sua decadência e física e posterior falecimento. A sua mente, como as suas personagens, (escrevia sempre na primeira pessoa) oscilava entre períodos de lucidez e de insanidade. Na altura da sua morte o seu comportamento era já totalmente errático.
Excelente texto! E não só do ponto de vista da ficção científica.
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