Colocar Frankenstein na origem da FC é erigir aquilo que George Slusser chamou de Barreira Frankenstein. Este muro incorpora um conflito geral que permanece bem enraizado na nossa cultura Ocidental, desde o tempo de Mary Shelley. Este é o conflito entre a tecnologia utilitária e os Parnassianos, aqueles que defendem que se faz a arte pela arte, afirmando que as coisas não são feitas para se usarem, mesmo que as façamos com a intenção de trazer mudança e progresso ao futuro. Tais oponentes das coisas que hão-de vir são cultores das ruínas. São amantes da demonstração, pela silenciosa presença das coisas que ultrapassam a sua função, que todas as coisas criadas eventualmente sobrevivem aos seus criadores. O argumento é: aquilo que sobrevive ao passado pode também derrotar o futuro. Uma moeda antiga encontrada em quaisquer ruínas, não só sobreviveu ao império que ajudou a construir, mas troça de todos as tentativas futuras de construção de tais impérios.
Ésta é a assunção que reside no deboche reaccionário do filme Satyricon de Fellini, um filme que o próprio perversamente considerou de Ficção Científica. As imagens de Fellini literalmente derrotam o futuro pela demonstração de que a grandeza do passado é muito maior do que os futuros imaginados, neste caso, os artefactos romanos simplesmente manifestados sem comentários no nosso presente. Eles são nos mostrados na sua crua materialidade, despidos de significado e de valor que em tempos governaram o seu uso.
Fellini pretende alcançar a derrota da tecnologia ao nos mostrar as coisas mortas da tecnologia - neste caso artefactos e maquinaria de um passado distante. Mas se a criatura de Victor é uma máquina, ela é feita de partes orgânicas. E o seu desejo por uma noiva é o esforço adicional para efectivar a síntese funcional do mecânico e do orgânico, para animar a sua materialidade e direccioná-la para um futuro vital. A reacção cultural a tais usos científicos de artefactos do passado é, como vemos em Fellini, um grande desejo de erigir muros, de criar uma relação antinómica entre os conceitos como máquina e organismo. Mas não é tudo. Em relação a estes termos particulares, uma curiosa inversão ocorre, na qual é agora a materialidade do próprio objecto orgânico que se eleva para bloquear, de qualquer maneira, as tentativas da tecnologia de produzir coisas. Nós vemos tudo isto no filme de Fellini, pois são os utilizadores humanos que se tornam no final de contas, obstinados, empedernidos e mais impenetráveis do que as coisas que manipulam.
Mary Shelley, de certa maneira, é a primeira também a penetrar nos meandros do horror do pós-modernismo.
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